A Ambiciosa Manufatura Solar Do Brasil

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Um projeto binacional integrado da indústria solar, anunciado há pouco mais de um ano, visa construir uma indústria de manufatura solar verticalmente integrada ao longo da fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Mas o projeto está em espera, aguardando atualização e reavaliação por seus novos gerentes.

A mbition foi a característica de destaque do projeto Green Silicon quando foi anunciado em 2013. A intenção era desenvolver uma cadeia de valor fotovoltaica integrada na fronteira do Brasil e Paraguai, mas é a mesma ambição que desde então levou seu desenvolvimento a uma parada. “É um projeto complexo a ser implementado – exige grande investimento e dois governos, dois conselhos e dois países precisam estar convencidos”, disse Maycon Vendrame, líder de projeto da empresa binacional de hidrelétricas Itaipú, à revista pv .

Inicialmente, a produção anual era de 1,7 GW, financiada por um investimento de cerca de BRL 1 bilhão (US $ 260 milhões) em toda a cadeia de valor, do polissilício aos módulos. A receita foi estimada em cerca de US $ 61,5 milhões por ano – nos valores de 2016 – enquanto o número de empregos diretos criados foi previsto em 4.310.

Segundo a Vendrame, o projeto está sendo reavaliado pelos novos gerentes da fábrica. Em março, o general Joaquim Silva e Luna foi nomeado diretor administrativo de Itaipú no Brasil. O discurso que ele fez quando sua nomeação foi tornada pública enfatizou fortemente a austeridade. Enquanto isso, vários programas estão sujeitos a reavaliações e gastos semelhantes agora estão sendo cortados. No lado paraguaio, a composição do conselho de Itaipú também mudou, com José Alberto Alderete assumindo em agosto de 2018.

O Green Silicon, no entanto, ainda não foi apresentado aos novos diretores. “Não foi cancelado, porque nada foi formalizado. Estamos aguardando a definição de prioridades. Os próximos passos do projeto ainda não foram definidos ”, explica Vendrame.

Seja como for, Itaipú não é a única responsável pelo projeto, que está sendo desenvolvido em parceria com a Federação da Indústria do Estado do Paraná (FIEP) e o Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento Hidrelétrico do Parque Tecnológico de Itaipú (PTI). A FIEP, responsável por atrair empresas e investidores para o lado brasileiro, não estava disposta a comentar o projeto.

A idéia inicial era que o governo paraguaio abrisse um pedido de investimento estrangeiro para financiar o projeto. O Paraguai, onde a eletricidade é, em média, 40% mais barata que no Brasil, sediaria as operações com maior consumo de energia, como produção de polissilício e lingotes.

A outra barreira é o calendário. A justificativa para o projeto – apresentada em um estudo realizado por várias agências do Instituto Fraunhofer da Alemanha – baseia-se no status de mercado de 2016, que não corresponde à realidade hoje globalmente nem no Brasil. “Precisaria ser atualizado para adequá-lo à tecnologia global, painéis mais potentes e novas tecnologias de fabricação”, diz o chefe de energia solar da PTI Marcos Kurata.

Contexto brasileiro

As dificuldades em competir com os painéis fabricados na China são um dos principais fatores que impedem o silício verde. Apesar da demanda crescente, o Brasil não conseguiu replicar o sucesso da política de nacionalização implementada para energia eólica.

Fabricantes com linhas de produção no país acham difícil vender sua produção, especialmente módulos. Essencialmente, os impostos sobre materiais e equipamentos de produção são mais altos do que nos painéis importados. Atualmente, existem quatro fabricantes de módulos com credenciamento nacional do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES): Balfar, BYD, Canadian Solar e Globo Brasil.

Para Adalberto Maluf, gerente de desenvolvimento de novos negócios da BYD Brasil, o mercado de geração centralizada tornou-se proibitivo. O executivo critica a posição do Banco Nacional do Nordeste (BNN), que é mais flexível que o BNDES quando se trata de incentivar o financiamento de projetos de grande porte.

O banco, que abrange as principais áreas de alta irradiação solar do Brasil (assim como o nordeste, também localizado na parte norte do estado de Minas Gerais), concede empréstimos para a compra de serviços e equipamentos para projetos, permitindo a importação de painéis solares mais barato do que os produzidos localmente.

No passado, o BNDES adotava uma postura mais rigorosa e exigia que todo o sistema trabalhasse com conteúdo local, incluindo – além do módulo – estruturas de montagem ou rastreadores fixos e todos os componentes elétricos. Começou apoiando parcialmente os projetos, apenas financiando componentes e serviços produzidos internamente. No entanto, uma mudança em suas taxas de juros em 2018, que se aproximam das disponíveis no mercado, neutralizou parcialmente a tentativa do banco de aumentar sua competitividade em relação ao financiamento de projetos solares. A taxa de longo prazo é de 6,28% ao ano (a taxa de referência do Brasil – a Selic – é de 6,5% ao ano e deve cair até o final do ano). O BNDES já havia oferecido uma taxa mais competitiva de 5,95% ao ano, o que ajudou a justificar a compra de produtos nacionais.

Sem incentivos para as grandes operadoras, a Canadian Solar e a BYD concentraram seus esforços no mercado de geração distribuída (até 5 MW), que em 2019 parece pronta para responder pela maioria das novas usinas do Brasil.

Queda da demanda

Além disso, o cancelamento de um leilão em 2016 causou uma queda na demanda por sistemas fotovoltaicos. No total, 4,2 GW foram contratados por meio de licitações no mercado regulado, incluindo 203 MW no último leilão, realizado em junho. Desse volume, 2 GW de capacidade estão em operação e contratos para quase 250 MW desde o primeiro leilão cancelado. A maioria dos projetos está programada para ficar online até 2021. O órgão de controle da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) espera que 477 MW sejam instalados no mercado em 2019.

Enquanto isso, a geração distribuída também continuará a crescer. No primeiro semestre de 2019, foram instalados 363 MW – principalmente sistemas de até 5 MW. A consultoria brasileira Greener acredita que em 2019 outros 728 MW serão colocados online por usuários comerciais (301 MW) e residenciais (426 MW). No geral, o PV provavelmente registrará mais de 1 GW de nova capacidade em 2019.

Volume de importação

O volume de células solares importadas para o Brasil reflete a desaceleração da produção doméstica. As despesas cresceram 29% entre 2017 e 2018, passando de US $ 502,4 milhões para US $ 645,8 milhões, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. No entanto, quase 90% desse valor – US $ 578,9 milhões – foram gastos em células solares já “montadas em módulos ou painéis” – em outras palavras, equipamentos prontos para instalação. Isso representa um aumento de 66% em 2017, quando os gastos com produtos acabados totalizaram US $ 349,6 milhões.

Ao mesmo tempo, as compras de “células não montadas” importadas ou insumos para fábricas locais caíram 56% entre 2017 e 2018. O valor geral no ano passado atingiu US $ 66,8 milhões, comparado a US $ 152,7 milhões no ano anterior.

Desigualdade fiscal

A indústria já enfraquecida do Brasil sofreu recentemente um revés adicional. No final de junho, o Ministério de Assuntos Econômicos publicou um novo regulamento que reduzia o imposto sobre a importação de bens de capital e equipamentos de TI / telecomunicações. Na prática, a maioria dos produtos fotovoltaicos importados – atualmente sujeitos a uma tarifa de 12% – ficaria isenta.

Isso ocorre porque os novos regulamentos dificultam a comprovação de que produtos semelhantes aos importados podem ser adquiridos no mercado interno (o que justifica o imposto de importação). O Ministério da Economia disse, então, que, para serem considerados semelhantes, os fabricantes de painéis solares brasileiros devem demonstrar que os produtos têm o mesmo preço de fábrica, excluindo impostos, e o mesmo preço de venda que os importados, além de fornecer prova de fornecimento do produto. nacionalmente nos últimos cinco anos.

Competitividade do país

A associação da indústria elétrica e eletrônica do Brasil (Abinee), a associação de energia solar do país (Absolar) e sua associação de geração distribuída responderam apresentando ao governo uma declaração sobre a competitividade da indústria solar do Brasil.

Segundo estimativas da Absolar, mesmo sem alterações nos direitos de importação, o custo dos painéis domésticos já é 30% superior ao dos importados. “A perspectiva para os módulos é desafiadora, para dizer o mínimo. Agora é difícil para os fabricantes competir e eles não têm acesso a financiamentos atraentes, como fizeram no passado com as taxas de longo prazo oferecidas pelo BNDES ”, explica Nelson Falcão, vice-presidente executivo da Absolar e diretor da Flex, produtora canadense Painéis solares no Brasil.

Atualmente, os módulos fotovoltaicos importados estão isentos do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Também são elegíveis à isenção das Contribuições Sociais sobre Receita Bruta (PIS / COFINS), no âmbito da estrutura de Redução de Imposto sobre Desenvolvimento de Infraestrutura (REIDI), um programa especial para projetos de infraestrutura.

Enquanto isso, os fabricantes nacionais pagam uma série de impostos sobre compras – II, IPI, PIS / COFINS e ICMS – em matérias-primas. Suas fábricas fazem parte do programa de competitividade industrial PADIS, que exige que eles invistam 5% de sua receita em pesquisa, desenvolvimento e inovação realizados no Brasil. Uma opção seria incluir as matérias-primas do setor no programa, que as isentariam dessas obrigações.

Dois ex-ministérios que foram absorvidos pelo Ministério da Economia (MEA) – o ministério da ciência e o ministério das comunicações – emitiram pareceres favoráveis ​​sobre a proposta de atualizar os anexos do PADIS no ano passado e incluir contribuições da indústria fotovoltaica. A legislação atualizada, no entanto, nunca foi publicada.

As associações pressionaram os senadores a apoiar o MEA na aprovação da inclusão de insumos e máquinas no PADIS. “Será difícil [nivelar o campo de jogo]. Na melhor das hipóteses, manteremos o imposto de importação um pouco mais ”, diz Falcão.

Até o final do ano passado, o Brasil possuía 2,3 GW dos 5,4 GW instalados na América do Sul, segundo a IRENA. O Chile, o próximo maior mercado da região, respondeu por 2,14 GW. Estendendo o escopo para a América Latina, o México liderou a região no final de 2018 com 2,54 GW.

James Ellis, chefe de pesquisa para a América Latina da BloombergNEF, diz que é possível estabelecer uma cadeia de valor solar na região, desde que o apoio do governo esteja disponível e a demanda seja suficientemente visível no futuro. Dito isto, competir com as importações chinesas é extremamente difícil.

“Embora o Brasil tenha desenvolvido a produção doméstica, tornando obrigatório o conteúdo local no setor de energia eólica, a dinâmica da indústria solar é muito diferente. Os principais fabricantes dos mais de 7 GW de módulos fornecidos para projetos concluídos ou em construção na América Latina são chineses – JinkoSolar, Canadian Solar, BYD e JA Solar, para citar apenas alguns ”, diz Ellis.

Ao mesmo tempo, ele acrescenta que há riscos em potencial na adoção de regras de conteúdo doméstico. O maior deles é o aumento de custos, situação já familiar nos projetos de energia eólica do Brasil. Regulamentos ambiciosos de conteúdo local também podem resultar em menos interesse em leilões, preços mais altos nos lances bem-sucedidos e atrasos na adoção de todas as melhores tecnologias disponíveis.

FONTE: Click Petróleo

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