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Biofábrica e controle biológico reduzem uso de agrotóxicos no algodão em Minas Gerais

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Produção de “insetos do bem” que combatem pragas no campo tem crescido 20% ao ano e diminuído custos de produção, segundo associação de cotonicultores mineiros.

Cultivar algodão com nenhum produto químico até o 90º dia de manejo é um feito de dar inveja em muitos produtores Brasil afora. Mas, em Minas Gerais, a exceção virou possibilidade com o uso de controle biológico.

O resultado foi obtido pelo produtor Paulo Henrique de Faria com o auxílio de inimigos naturais produzidos pela biofábrica da Associação Mineira de Produtores de Algodão (Amipa), além de microorganismos criados em sua própria On Farm.

Biológicos-aplicação-drone (Foto: Divulgação/José Lusimar/Amipa)
Aplicação de defensivos é feita com auxílio de drones em Minas Gerais (Foto: Divulgação/José Lusimar/Amipa)

Plantando algodão há cinco anos em Pirapora, no norte de Minas Gerais, Faria recorre a métodos físicos, como a rotação de culturas, e biológicos para proteger sua lavoura desde que aderiu à cotonicultura.

A dificuldade ainda é superar o bicudo do algodoeiro, praga que quase dizimou a produção brasileira e assola o país até hoje. “Quando chega o bicudinho, não tem como. Passamos a intercalar com defensivos químicos”, admite.

Embora já produza café e feijão livres de químicos seguindo o mesmo receituário, ele defende que, por causa do bicudo, ainda não é possível manter a produtividade do algodão sem apelar nenhuma vez às moléculas sintéticas. “Hoje, plantar algodão orgânico ainda significa produzir menos para vender um produto mais caro a partir de certificação”, conta.

De olho numa solução para esse entrave, a Amipa trabalha em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em busca de uma solução. Uma das alternativas são dois insetos capazes de predar a larva do bicudo ainda dentro da maçã do algodão.

Com o avanço da pesquisa comandada pelo engenheiro agrônomo e entomólogo da Embrapa Algodão José Geraldo Di Stefano, a expectativa é disponibilizar o novo insumo macrobiológico aos associados da Amipa em meados de 2022.

Instalado na biofábrica da associação há cinco anos, Di Stefano defende uma abordagem circular do plantio de algodão calcada em quatro eixos: controle biológico, créditos de carbono, sistemas regenerativos e domínio pleno dos dados sobre a propriedade. “A partir dessa base e de uma mudança na mentalidade do produtor, será possível produzir mais e com menor impacto ambiental”, aposta.

De acordo com os cálculos de logística reversa feitos por Di Stéfano, a redução de cinco aplicações de pesticidas voltados à eliminação do bicudo geraria uma redução em 8 milhões de embalagens que precisam ser descartadas após o uso.

Apoio e assistência

Ainda que o trunfo contra o bicudo esteja agendado para 2022, a biofábrica da Amipa incentiva seus 500 associados a usarem bioinsumos desde o fim de 2014. O foco é na produção de insetos predadores das pragas, que ainda contribuem com a complexidade ambiental da lavoura, tornando as plantas mais resistentes e produtivas.

Entre os agentes mais procurados na biofábrica está a microvespa Trichogramma pretiosum. Ela caça  lagartas como do cartucho, bicho-cigarro e falsa-medideira, pragas conhecidas por gerar grandes prejuízos para as culturas de algodão, soja e milho.

Além dos bioinsumos a preço de custo, a Amipa oferece consultoria aos produtores da região. O processo começa com uma visita do agrônomo da associação, José Lusimar Eugênio, que oferece de forma gratuita o assessoramento técnico para introduzir o controle biológico.

“Eu levanto quais os principais problemas dentro da propriedade, as culturas que o produtor trabalha e os principais gargalos presentes no manejo de pragas, não só no controle, mas principalmente na parte de monitoramento, utilização de tecnologia de aplicação”, detalha Eugênio.

Depois, uma equipe faz uma análise das larvas, nematóides e insetos nocivos à lavoura via drone para decidir quais inimigos naturais usar e decidir a distribuição de armadilhas com feromônios ativos contra mariposas. Finalmente, os representantes da Amipa negociam com o produtor a compra dos defensivos biológicos.

Idealizador da biofábrica e diretor-executivo da Amipa, Lício Augusto Pena de Sairre ressalta que a produção da biofábrica vem crescendo 20% ao ano. Ele observa que a aplicação dos inimigos naturais também é feita com veículos aéreos autónomos não tripulados, o que torna o manejo de pragas mais preciso.

Somando-se ao efeito dos inimigos naturais, a Amipa oferece bioinsumos voltados ao controle de pragas do solo, como os nematóides, que também ajudam na mineralização do solo, responsável por fornecer às plantas nutrientes importantes como o nitrogênio.

Queda nos custos

Como a maioria dos membros da associação é adepta da rotação de culturas, a biofábrica também trabalha com produtos voltados para feijão e milho. É o caso do presidente da Amipa, Daniel Bruxel.

Sua propriedade, em Patos de Minas, rotaciona 16 lavouras diferentes, uma delas, o algodão. Além da cotonicultura, ele usa a microvespa na soja, no trigo e no tomate – este último já não precisa de aplicações de inseticidas para o controle de lagartas, diz Bruxel.

Embora sua produtividade não tenha aumentado — se manteve constante —, seus custos com aplicação de defensivos químicos caíram em todas as lavouras. No caso do algodão, a substituição por biológicos torna o manejo de pragas cerca de 35% mais barato. “Esse número varia de ano a ano”, conta o produtor.

Para manter a lavoura de café saudável de Bruxel, a redução de custos alcança os 60%, com a introdução de inimigos naturais da família Chrysopidae para controle do bicho-mineiro, uma praga típica nos cafezais da região.

Questionado sobre a possibilidade dos biológicos substituírem de uma vez por todas as moléculas sintéticas nos próximos anos, ele aposta nos inimigos naturais pensando em longo prazo.

“Enxergamos um futuro cada vez menos dependente de produtos químicos. No caso dos inseticidas, é mais fácil. Para os fungicidas e herbicidas, o desafio fica maior. Mas se houver vontade das grandes multinacionais em investir nessa tecnologia, pode acontecer, mesmo que demore”

Daniel Bruxel, presidente da Amipa

Algodão sustentável

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) destaca que todas as fazendas certificadas pelos programas Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e BCI —  o equivalente a 75% de todas as unidades produtivas do país na safra 2019/2020 — priorizam o manejo integrado de pragas e o controle biológico em seu sistema de manejo agronômico.

As estratégias de combate de pragas com ênfase nos bioinsumos começaram a ser empregadas nas plantações de algodão na década de 1990. Isso ocorreu após as lavouras brasileiras terem sido devastadas por pragas exóticas, como o bicudo do algodoeiro.

“Com a maior parte do algodão cultivado no Nordeste, o Brasil era um dos maiores produtores mundiais. Depois do bicudo, viramos o maior importador. A partir do uso de biológicos, fomos recuperando a nossa produtividade e estamos atrás apenas dos Estados Unidos na produção mais uma vez”, afirma Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa.

De acordo com Busato, o algodão brasileiro hoje é o que mais produz em menos área justamente por causa do clima, também culpado por ser propício demais às pragas. Ele ainda cita a campanha Sou de Algodão, da Abrapa, que valoriza a cadeia produtiva, ao afirmar que o produtor brasileiro gasta menos água e tem alta adesão aos bioinsumos.

Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais adotam os agentes de controle biológicos massivamente nas lavouras de algodão, segundo a Abrapa. Os Estados detêm cinco biofábricas, com a capacidade de atender 1,1 milhão de hectares da pluma na safra 2020/2021 – o correspondente a mais de 80% da produção nacional.

Não há, no entanto, dados sobre a área que conta com bioinsumos de forma efetiva, de acordo com a associação. Mesmo assim, as perspectivas são animadoras, diz o produtor Paulo Henrique de Farias. Ele conta que, após aderir ao controle biológico, é impossível não perceber os benefícios.

“Não é apenas o solo que melhora, mas todo o macrossistema da propriedade. Além da redução nos químicos, o produtor começa a reduzir entradas com máquinas agrícolas, gasta menos combustíveis fósseis, energia, água e ainda preserva os funcionários”, conclui.

FONTE: Globo Rural

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