Um dos setores mais prejudicados durante a pandemia de covid-19, a logística mundial deve enfrentar mais gargalos nas próximas semanas para fazer o transporte de cargas provenientes de países envolvidos ou próximos ao conflito da Rússia e Ucrânia. A invasão russa começou na última quinta-feira (24) e já se estende pelo nono dia, sem uma solução diplomática.
Segundo dados da Associação Internacional de Fertilizantes (IFA, sigla em inglês), da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e do banco multinacional holandês, Rabobank, compilados pela CHANCELLER Mercado Internacional, somente a Rússia foi responsável por fornecer 22% de todo o fertilizante importado pelo Brasil ao longo de 2021.
Os impactos na logística já começam a tomar contornos mais evidentes e ‘ligam o sinal de alerta’ para os profissionais do setor. Gabryel Zaneti, coordenador da CHANCELLER em Mato Grosso, explica que vários fatores podem interferir no setor, como foi o caso da pandemia e agora uma guerra entre países que possuem importância mundial no comércio de fertilizantes.
Zaneti acrescenta também que as companhias marítimas já anunciaram que não vão atuar na região do Mar Negro, pois já há relatos de navios comerciais atingidos por mísseis na região. Além disso, os portos da Ucrânia permanecerão fechados até o fim do conflito e as gigantes do transporte marítimo suspenderam o transporte de contêineres em direção à Rússia.
“A logística aqui está sendo totalmente influenciada, temos a redução dos serviços de rotas marítimas, redução dos serviços de rota área, os processos rodoviários estão sendo extirpados dessas regiões para evitar uma linha direta com esse conflito. Então, nós notamos uma influência sobre toda a logística global”, disse Zaneti, em entrevista ao Estadão Mato Grosso.
De acordo dom dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil consome cerca de 40 milhões de toneladas de fertilizantes, sendo que 85% são importados. Os principais fornecedores de nitrogênio são: Rússia, China e Oriente Médio. Os fornecedores de fósforo são: China, Marrocos e Rússia. Já o potássio vem principalmente de Belarus, Canadá e Rússia.
Os dados apontam que há um grande fluxo comercial entre os países envolvidos no conflito, porém, como o Brasil está abrindo novos mercados, essa dependência está reduzindo. Gabryel Zaneti cita como exemplo os países da América do Sul, como Argentina, Colômbia e Bolívia, que já fornecem alguns fertilizantes aos produtores brasileiros.
“Em se tratando do produtor rural, ele vai ter que recorrer a outros fornecedores, então nós teremos que abrir este mercado, que já vem sendo prospectado e está bem mais amplo que antigamente. Antes erámos muito reféns da Rússia, hoje não somos tanto quanto antigamente”, afirma, destacando que os países da América do Sul devem ganhar espaço no mercado brasileiro.
MAPA GARANTE ESTOQUES
Em entrevista nessa quarta (2), a ministra do Mapa, Tereza Cristina, garantiu que os produtores já tem estoques de fertilizantes até outubro deste ano. Além disso, a ministra afirmou que vai ao Canadá, outro grande fornecedor de fertilizantes ao Brasil, para negociar a compra de fertilizantes. Ela estima que a falta desses insumos fará os preços dos alimentos ‘disparar’.
O economista Vivaldo Lopes, ouvido pelo Estadão Mato Grosso em ocasiões anteriores, avalia que o impacto da crise dos fertilizantes será sentido na safra 2022/2023. Os dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) já apontavam para um aumento de custo de produção próximo de 50%.
“Esses fertilizantes não virão desses países mais, vai ter que comprar no Canadá, no Irã, na China. Portanto, vai encarecer, porque vai faltar insumos no mercado. Esse efeito vai aparecer na safra de 2023, a safra de 2022 já está plantada e sendo colhida”, explicou Vivaldo ao Estadão Mato Grosso, logo após a invasão da Rússia à Ucrânia.
Veja os principais fornecedores do Brasil abaixo:
Principais fornecedores de Cloreto de Potássio do Brasil
Principais fornecedores de fertilizantes fosfatados
Principais fornecedores de fertilizantes nitrogenados
FONTE: Estadão Mato Grosso
