O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade, solicitou em carta enviada no dia 24 de abril ao Ministro da Economia, Paulo Guedes, a suspensão das negociações de acordo comercial entre Mercosul e Coreia do Sul. O documento aponta, entre outros motivos, que o avanço acelerado do diálogo entre os dois países, sem consulta ao setor privado, acarretará em um saldo negativo de US$ 7 bilhões para o Brasil.
“Os setores industriais, que devem ter um papel relevante na retomada da economia e na geração de empregos nos níveis nacional e regional, sofrerão impactos graves, sobretudo no cenário pós-pandemia da Covid-19”, afirma Robson Andrade.
O presidente da CNI lembra ainda que, no final de 2019, foram estabelecidos dois importantes diálogos entre os Poderes Executivo e Legislativo: um sobre integração internacional e outro sobre produtividade e competitividade, envolvendo o Ministério da Economia, representantes do Poder Legislativo, CNI e associações industriais.
“Os dois diálogos foram fundamentais para estabelecer o objetivo de ampliar a integração internacional do Brasil, de forma gradual e com base em uma agenda que tivesse um olhar também para a competitividade da produção nacional”, afirma Robson Andrade.
Negociação com a coreia do sul está avançada sem consulta ao setor privado – De acordo com o presidente da CNI, os acordos firmados pela Coreia do Sul com países em nível de desenvolvimento semelhante ao do Brasil, como a China, a Índia e a Turquia, trazem exclusão de um número mais amplo de produtos, chegando a quase 20% das linhas tarifárias, períodos de carência e margens de preferência para produtos industriais.
“Temos informações de que a negociação está avançada, com cerca de 90% de cobertura do comércio bilateral. Contudo, o setor privado não foi informado sobre as concessões feitas pelos governos argentino e brasileiro. Além disso, não parece haver dispositivos para tratar de produtos sensíveis”, explica Robson Andrade.
Além disso, a carta enviada ao governo pela CNI esclarece que o momento posterior à pandemia exigirá do governo um foco em políticas de retomada da atividade produtiva e da geração de empregos no país. Para isso, afirma a entidade, serão necessários acordos comerciais mais equilibrados com parceiros que tenham potencial de gerar mais impactos positivos na produção do país.
Indústria argentina também quer interrupção das negociações – A posição da CNI se soma ao posicionamento da segunda maior economia do bloco. Em declaração conjunta, assinada no dia 23 de abril, a indústria brasileira e a União Industrial Argentina (UIA) manifestam preocupação com a falta de transparência nas negociações entre Mercosul e Coreia do Sul, bem como com a falta de capacidade das indústrias do bloco em enfrentar práticas desleais de comércio. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) revelam que a Coreia do Sul é o segundo principal alvo de medidas de defesa comercial, atrás apenas da China.
FONTE: Abit