A união faz a força. O ditado popular pode ser aplicado ao programa Alliance Shoes, uma espécie de consórcio criado pelo Sinbi (Sindicato da Indústria do Calçado e Vestuário de Birigui) para que nove pequenas empresas avancem as fronteiras do Brasil e alcancem novos mercados mundo afora com a exportação de seus produtos. O primeiro embarque desta ação, de um contêiner com seis mil pares de calçados infantis, deve seguir para o Equador já no mês que vem.
Inédito no setor calçadista, o programa foi criado há cerca de um ano e meio, diante de um mercado interno desfavorável e a desvalorização do real frente ao dólar, que torna os produtos brasileiros mais competitivos lá fora.
A meta, segundo o presidente do Sinbi, o empresário Renato Ramires, é que os pequenos fabricantes possam ganhar novos mercados, ampliar sua produção e faturamento, gerar novos empregos e, com isso, se transformarem em médias ou grandes empresas, com um parque fabril mais bem remunerado e salários compatíveis aos funcionários.
Empreendedores natos, os empresários de Birigui vêm, na sua maioria, do chão de fábrica, e possuem grande capacidade na parte produtiva, mas, muitas vezes, têm falhas na gestão. O município tem aproximadamente mil empresas do setor calçadista que geram cerca de 13 mil empregos diretos.
Quando o assunto é exportação, os obstáculos vão desde o medo e a comunicação até os altos custos de viagens e participações em feiras internacionais, além das adequações dos produtos para o exigente mercado internacional.
MARCA ÚNICA
O Alliance Shoes funciona como uma espécie de consórcio, que trabalha com uma marca única, a Alls, ou seja, os fabricantes vendem os seus produtos utilizando o mesmo nome, dividindo os custos de embalagem e os demais gastos que envolvem a venda para o mercado externo.
“São vários concorrentes trabalhando junto, pegamos amostras do que cada um tem de melhor e oferecemos aos importadores como uma marca única”, explica Ramires.
PAÍSES
Inicialmente, os países-alvo do programa são a Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai. O segundo passo será o Oriente Médio. “Não queremos depender de um mercado só, a ideia é aumentar o número de países compradores para que não haja mais oscilação nas exportações como houve no passado”, afirma o presidente do Sinbi. “Queremos que Birigui tenha clientes nos quatro cantos do mundo de forma fracionada”, completou.
ETAPAS
Para chegar até aqui, com pedidos engatilhados e as vendas prestes a se concretizarem, um longo caminho foi percorrido. Primeiro, havia o desafio da confiança entre os empresários participantes, que até então se viam apenas como concorrentes. Depois, foram avaliados os processos de gestão, que foram aprimorados com o apoio do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Outro passo foi a contratação de um gerente comercial de exportação e a criação do laboratório Conecta, com a finalidade de preparar as empresas para o novo momento. Os empresários são treinados, junto com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), na elaboração de fotografia, geração de conteúdo e apresentação do produto para o importador.
“Sem isso, as empresas não conseguem exportar. O comprador tem que entender o produto que está sendo ofertado, mesmo sem ter o calçado nas mãos”, destaca Ramires.
Na sequência, o Alliance Shoes promoveu lives com influencers de moda dos países-alvo e rodadas de negócios, também virtuais, por causa da pandemia, que permitem sanar na hora todas as dúvidas, dos exportadores e importadores, antes de fechar o negócio. Após os contatos, foram enviadas amostras aos clientes, incluindo grandes redes de lojas.
SEM MEDO
O objetivo do Alliance Shoes, segundo o presidente do Sinbi, é fazer com que estas pequenas empresas possam se sentir seguras e, futuramente, exportem sozinhas, a sua própria marca. “Queremos quebrar o medo delas de exportar e, assim que elas estiverem prontas, vamos treinar outras empresas”, afirmou.
Além do Sebrae e do Senai, o Alliance Shoes conta com o apoio da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), por meio de seu programa Brazilian Footwear, de apoio às exportações de calçados, e também da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
NÚMEROS
Segundo o Ministério da Economia, Birigui movimentou US$ 9,9 milhões com exportações nos primeiros cinco meses de 2021. O destaque são os calçados, cujos negócios atingiram US$ 4,9 milhões no período, representando 49,6% das vendas externas do município.
Entre janeiro e maio de 2021, houve um aumento de 16% nas vendas externas em comparação com o mesmo período do ano passado, passando dos US$ 4,2 milhões para os US$ 4,9 milhões em negócios.
O município exporta para 62 países. Dentre eles estão Tailândia, Argentina, Equador, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Paraguai, Israel, Árabia Saudita, Rússia, Coreia do Sul e Líbia.
FONTE: Folha da Região