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Brasil está preocupado com queda expressiva das exportações para a Argentina, afirma secretária de Comércio Exterior

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Tatiana Prazeres faz primeira visita a Buenos Aires após posse de Milei. De janeiro a março, a Argentina somou 3,6% das exportações brasileiras, percentual mais baixo em dez anos

No primeiro trimestre de 2024, as exportações brasileiras para a Argentina representaram apenas 3,6% do total das vendas do Brasil ao mundo, acentuando uma perda relativa de importância do país vizinho para o comércio exterior brasileiro nos últimos dez anos. No mesmo período de 2014, o percentual foi de 6,5%, em 2020 caiu para 4,1% e, depois de uma leve recuperação, voltou a despencar.

As maiores participações foram no período entre 1997 e 2000, com recorde para 1998, em 13,2%. Posteriormente, houve uma queda na participação da Argentina nas exportações do Brasil, alcançando um pico de participação em 2010, de 9,23%, porém, ainda abaixo das participações antes de 2000. Em 2011 foi o recorde em valor de exportações para Argentina, alcançando US$ 22,7 bi, mas sem participação recorde (8,95%).

A primeira visita da secretária de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Tatiana Prazeres, a Buenos Aires para iniciar um diálogo com representantes do governo Javier Milei foi marcada por essa preocupação.

— Isso tem a ver, sobretudo, com o encolhimento da economia argentina — disse Prazeres ao GLOBO, após reunir-se com o secretário de Comércio argentino, Pablo Lavigne, que definiu o encontro como positivo, e destacou o interesse do governo argentino em trabalhar para recuperar o comércio bilateral.

Qual foi a agenda de sua primeira visita a Buenos Aires desde a mudança de governo na Argentina?

A Argentina é um mercado importante para o Brasil e, este ano, a importância relativa da Argentina para as exportações brasileiras caiu de maneira consistente, o que nos preocupa. No passado, a fatia que a Argentina tinha naquilo que o Brasil exporta foi muito mais relevante. Entre janeiro e março, a Argentina respondeu por 3,6% das nossas exportações. Desde 2014 nunca foi tão pouco. Em 2017, a Argentina representava 8,2% de tudo o que o Brasil vendia pro mundo. Isso nos preocupa, porque o perfil das nossas vendas para a Argentina é de produtos com maior valor agregado, produtos industrializados, de empresas de menor porte. Muitas vezes, as vendas para a Argentina são as primeiras vendas de uma empresa que deseja exportar.

Qual foi o recado transmitido ao governo Milei?

O objetivo dessa reunião com meu contraparte na Argentina era abrir um canal de diálogo para que a gente possa trabalhar junto de maneira a incrementar o comércio bilateral. A queda de nossas exportações para a Argentina no primeiro trimestre de 2024 tem a ver com dois fatores. No ano passado, tivemos uma base alta decorrente das exportações de soja e energia elétrica, em função da seca na Argentina. Isso tem a ver com a queda, mas também tem a ver, e sobretudo, com o próprio encolhimento da economia argentina. Interessa pro Brasil que a Argentina se recupere economicamente com rapidez.

Como as empresas brasileiras que exportam para a Argentina estão vendo o comércio bilateral?

Se tivesse de resumir, diria que a visão é de que o comércio se tornou mais previsível, mas, ao mesmo tempo, se tornou mais caro. Houve nesta nova administração argentina uma eliminação de entraves burocráticos ao comércio, principalmente da Sira, que era uma espécie de licença não automática que tornava as operações menos previsíveis. Mas, ao mesmo tempo, esse governo aumentou em dez pontos percentuais um imposto sobre operações de comércio. Uma taxa de 7,5% passou para 17,5%. A avaliação das empresas brasileiras é de que esse governo, ao invés de restringir o acesso ao mercado de câmbio por meio de entraves burocráticos encareceu a operação cambial a partir desse imposto, o imposto país. Isso entende-se à luz tanto do baixo nível de reservas [do Banco Central], como do interesse do país de melhorar a situação fiscal.

Greve geral na Argentina

Até o fim do ano passado, os pagamentos às importações eram um problema grave no país.

Fizemos consultas ao setor privado e a avaliação é de que, de maneira geral, o novo sistema está funcionando. Mas funciona garantindo o acesso ao mercado de câmbio de forma parcelada, em 30, 60, 90 e 120 dias. Os primeiros pagamentos de 30 e 60 dias ocorreram conforme o previsto. As empresas brasileiras continuam assumindo um risco, porque não conseguem receber pela mercadoria da maneira que desejariam. A avaliação é de que o fluxo melhorou, mas há um problema de estoque. Aqueles pagamentos que deveriam ocorrer sobre o regime anterior, que muitas vezes previa o pagamento em 365 dias, em muitos casos, ainda não foram feitos. Combinamos de ficar em contato para fazer esclarecimentos sobre pagamentos ainda a serem recebidos. No caso do setor calçadista, por exemplo, há um número elevado de exportadores brasileiros que venderam para a Argentina no ano passado e ainda não receberam. O que entrou no modelo novo, já houve pagamento, mas o problema do estoque segue.

O pagamento às importações não foi normalizado.

Não está normalizado porque as restrições cambiais seguem presentes. Alguns setores têm prazos diferenciados e a notícia positiva é que me foi confirmado que para pequenas e médias empresas o acesso ao mercado de câmbio será em 30 dias, no valor integral. As mudanças vão na direção correta e favorecem o comércio.

Quais são os setores brasileiros mais prejudicados pela recessão argentina em suas vendas ao país?

Em indústria de transformação (automóveis de passageiros, por exemplo, caiu 19,1%), a queda foi de 24,4% no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. São empregos de melhor qualidade, agregam mais valor. Agropecuária caiu muito (73,7%), puxada pela soja (queda de 83,2). Pneus tiveram queda de 33%. Calçados, setor que tinha na Argentina um mercado relevante, caiu 27,2%.

O governo Milei se mostrou interessado em recuperar o comércio com o Brasil?

Sem dúvida, é uma visão de que interessa um comércio mais robusto e fluido. Existe uma visão de que as restrições no mercado de câmbio têm a ver com o fato de que as reservas não estão no nível que eles desejariam. Há um processo de recomposição das reservas internacionais em curso e existe uma expectativa de que as restrições ao comércio diminuam na medida em que o país consiga recompor as reservas.

Falou-se em dolarização?

Não, esse tema não entrou nas conversas. Foi um encontro muito positivo, embora os números do comércio não sejam. Mas as circunstâncias explicam.

Na campanha, Milei teve um discurso muito negativo em relação a países como Brasil e China. O problema do comércio não é a ideologia do presidente argentino.

O comércio caiu a esse patamar pelas circunstâncias econômicas da Argentina e a mensagem do governo argentino é de que eles querem favorecer o comércio, desburocratizar, facilitar, reduzir custos desnecessários.

Qual foi a mensagem do governo argentino sobre a recuperação do país?

A mensagem foi de que este será um ano difícil em função do ajuste, mas que o ano que vem seria importante para retomada.

FONTE O Globo

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