Estudo aponta que aço à base de hidrogênio limpo pode ser opção mais barata em 2050.
A produção de aço à base de hidrogênio verde pode ser a opção mais barata para produzir aço com zero emissões em 2050, segundo levantamento da BloombergNEF.
O estudo aponta que o Brasil é um dos candidatos a receber siderúrgicas em busca de produção de aço com baixo teor de carbono a preço competitivo. O país, além de reservas de minério de ferro, conta com energia de base limpa e barata, como a hidrelétrica, o que poderia reduzir os custos do aço à base de hidrogênio verde.
“Isto poderia levar a uma mudança na localização de novas siderúrgicas. Embora hoje estejam localizadas perto do minério de ferro e/ou dos seus centros de demanda, o fator mais importante no futuro poderá ser a co-localização com energia limpa 24 horas por dia, 7 dias por semana”, diz o documento.
“É mais provável que esta realocação aconteça lentamente e para países onde também existem depósitos de minério de ferro de boa qualidade, como o Canadá e o Brasil”, completa.
O documento foi encomendado por uma Coalizão que reúne interessados na indústria do hidrogênio, incluindo executivos da Fortescue – mineradora australiana que possui um mega projeto em desenvolvimento para produção hidrogênio verde no Ceará – e da Mubadala – fundo de investimento que controla a Acelen, dona da Refinaria de Mataripe, na Bahia.
“A produção de aço à base de hidrogênio requer energia limpa e barata para produzir hidrogênio verde econômico para produzir ferro e alimentar a siderurgia”, afirma o relatório..
“Assinar PPAs com centrais hidrelétricas, geotérmicas ou nucleares existentes é uma boa forma de garantir energia limpa e barata 24 horas por dia, 7 dias por semana. Os países com um grande portfólio hidrelétrico incluem Noruega, Canadá, Brasil e China”.
Hidrogênio para descarbonizar a siderurgia
O setor siderúrgico é o maior consumidor industrial de carvão, sendo responsável por 7% das emissões globais de carbono. Em 2022, o carvão foi responsável por 74% de toda a demanda de energia na indústria, seguido por eletricidade (14%) e gás natural (9%).
Segundo a BNEF, a produção de aço com hidrogênio poderia descarbonizar mais de 40% da produção global até 2050.
Isso exigiria pelo menos 150 milhões de toneladas de hidrogênio por ano, o que coloca a siderurgia como um dos principais consumidores de hidrogênio de baixo teor de carbono.
O custo de produção estimado pela BNEF de aço à base de hidrogênio em 2050, assumindo o custo do hidrogênio entregue de US$1 por quilograma, seria US$489 por tonelada. Atualmente, o quilograma do hidrogênio verde está entre US$4 e US$12.
Levantamento anterior da consultoria já havia colocado o Brasil como um dos países capazes de produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo.
Hoje, segundo o estudo, a utilização de hidrogênio verde no processo de redução direta de ferro (DRI) ainda é muito mais cara, com um prêmio de pelo menos 150 a 300 dólares por tonelada em relação ao aço feito com gás natural, por exemplo.
Contudo, o documento aponta que a utilização de 100% de hidrogênio em altos fornos ainda não possui viabilidade comprovada em escala comercial.
Minério brasileiro e aço verde
A BNEF também identificou que, até setembro de 2023, foram assinados 32 acordos para produção de aço à base de hidrogênio. Destes, 23 foram firmados pela H2 Green Steel (H2GS).
A companhia anunciou esta semana que, até agora, garantiu o financiamento de cerca de 6,5 bilhões de euros para a primeira fábrica de aço verde em grande escala do mundo, que será instalada no norte da Suécia. Entre os financiadores da H2GS estão BNP Paribas, Microsoft Climate Innovation Fund e o Fundo de Inovação da União Europeia.
O minério de ferro que se transformará em aço na planta sueca vai ser enviado do Canadá e do Brasil. No ano passado, a companhia assinou um acordo com a Vale para fornecimento de pelotas de redução direta para a planta na Suécia.
Mas as empresas também estudam o desenvolvimento de hubs industriais no Brasil para produção hot briquetted iron (HBI) feito a partir do hidrogênio verde. O HBI, simplificadamente, é uma forma mais concentrada do DRI.
Nos polos industriais verdes, a Vale deverá construir e operar plantas de briquetes, que alimentarão reatores de redução direta para a produção de HBI e outros metais.
O número de polos, localização e capacidade de produção ainda serão definidos após estudos de viabilidade desenvolvidos em conjunto pelas duas empresas.
“Tanto o Brasil quanto partes da América do Norte têm grande potencial devido ao acesso a fontes de energia renováveis, minério de ferro de alta qualidade e disposição política para apoiar projetos de descarbonização”, disse Kajsa Ryttberg-Wallgren, vice-presidente executivo de crescimento e negócios de hidrogênio da H2 Green Steel, após o acordo.
Por enquanto, a mineradora brasileira desenvolve duas plantas de briquete – que utilizam gás natural no processo – nas suas instalações em Tubarão, no Espírito Santo. Quando prontas, elas terão capacidade para produzir 6 milhões de toneladas por ano do insumo.
Segundo a Vale, o novo tipo de briquete emite cerca de 80% menos CO2 em relação às pelotas na sua fabricação.
Contudo, o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo, já sinalizou que o hidrogênio verde poderá pular o gás natural, como insumo para produção de HBI no Brasil, por conta da competitividade de preço esperado na próxima década.
“Com esse acordo, estamos no Brasil fazendo parceria com um produtor verde de ferro e aço que está na vanguarda da descarbonização global, ao mesmo tempo em que fomentamos a indústria de baixo carbono e estimulamos a cadeia do hidrogênio verde no país”, disse o presidente da Vale.
Analistas apontam que o HBI a partir do hidrogênio verde produzido no Brasil já possui preço aceitável no mercado europeu, considerando a taxação de carbono da União Europeia. Isso porque o HBI para exportação combinaria a competitividade do Brasil em minério de ferro e hidrogênio verde para exportar ferro de baixo carbono, segundo a McKinsey.
ArcelorMittal também aposta em aço verde no Brasil
Também em Tubarão (ES), a ArcelorMittal e a EDP assinaram, no ano passado, um memorando de entendimento (MoU) para avaliar a viabilidade técnica e econômica de uma planta piloto para a produção e uso de hidrogênio verde no processo de fabricação do aço.
O CEO ArcelorMittal Aços Planos América Latina, Jorge Oliveira explica que a iniciativa, apesar de piloto, está alinhada com a meta global do grupo de se tornar neutro em carbono até 2050, e que analisa expandir a aplicação do H2 verde para para outras unidades no Brasil futuramente, conta Oliveira.
“Com essa colaboração, exploraremos a possibilidade e viabilidade de, futuramente, incorporar e aplicar o hidrogênio como parte do nosso processo produtivo contribuindo, juntamente, com alternativas para nos tornarmos no futuro uma empresa carbono neutro”.
Em 2023, a companhia concluiu a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), em uma operação de US$2 bilhões, mirando a utilização em seus fornos do hidrogênio verde produzido no hub do complexo portuário do Ceará.
FONTE epbr