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Exportação de gengibre garante renda a 1.500 famílias no Espírito Santo

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Produtor que exportava duas mil caixas fez parcerias e avançou para 150 mil caixas; ‘rei do gengibre’ abriu filial nos EUA

Há 20 anos, uma raiz tuberosa de aroma forte muito usada na culinária oriental atraiu a atenção do pequeno produtor rural Leomar Schaeffer que plantava verduras e café em sua propriedade em Santa Leopoldina, na região serrana do Espírito Santo.

“Vi que o gengibre começava a dar dinheiro na região e plantei meio hectare para testar. Colhi duas mil caixas no primeiro ano. Hoje, o produto é o meu principal sustento e de mais 16 parceiros. Eu planto 20 hectares de gengibre, os parceiros cultivam mais dez hectares e, no ano passado, exportei quase 100 contêineres com 150 mil caixas e tive um faturamento de R$ 4 milhões”, relata.

Toda a produção de Schaeffer e dos parceiros vai para exportação. Cerca de 70% é embarcado para a Europa e o restante é vendido para os Estados Unidos e outros países.

O descendente de alemães cujos pais e avós também nasceram na roça no Espírito Santo não foi o único a perceber o potencial do gengibre. Cerca de 1.500 famílias da região serrana, a maioria agricultores familiares, cultivam o gengibre com foco na exportação. O produto brasileiro vai para 41 países.

O engenheiro agrônomo Galderes Magalhães, extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), órgão da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) que fomentou a produção no Estado, diz que o gengibre capixaba é todo irrigado e representa quase 60% do total colhido no Brasil.

Em 2023, ano de bons preços no mercado internacional, a raiz se tornou o quarto principal produto na pauta de exportações do agro capixaba, com uma receita de US$ 37,64 milhões, perdendo apenas para o café, celulose e pimenta-do-reino.

Condições

Magalhães conta que o gengibre, originário da Ásia, começou a vingar na região serrana do Espírito Santo na década de 1970, quando as prefeituras da região importaram mudas de São Paulo.

“Viram que o clima, solo, altitude e perfil do produtor da região serrana permitiam produzir bem o gengibre. Os agricultores familiares foram aprendendo as técnicas de manejo e o avanço que faltava veio quando um grande empresário que exportava mamão começou a embarcar o gengibre no final da década de 1990”.

Segundo os dados da Seag, em 2012, o Estado tinha 246 hectares de gengibre e produção de 8.565 toneladas. Dez anos depois, a área plantada subiu para 1.169 hectares, com produção de 59.506 toneladas.

Ou seja, em uma década a área quadruplicou e a produção cresceu seis vezes. A produtividade média é de 59 toneladas por hectare, mas alguns agricultores mais tecnificados colhem acima de 100 toneladas.

Neste ano, a expectativa é colher 70 mil toneladas. A produção se concentra em oito municípios, com destaque para Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Domingos Martins.

O extensionista do Incaper diz que, com exceção do preparo inicial da terra que pode ser feito com máquina, todo trabalho no gengibre é manual, desde o plantio, passando pelos tratos culturais até a colheita.

O agricultor familiar leva vantagem no cultivo porque não depende de mão de obra contratada e, com áreas pequenas, consegue fazer todo o manejo que a planta precisa na hora certa. “Se atrasar, por exemplo, uma semana para jogar terra em cima do rizoma, já perde 500 gramas de raiz na colheita”.

Retirada sem cortes da terra, uma raiz pode alcançar mais de 10 kg, mas é fracionada em toletes de 200 g a 500 g para exportação. A planta demora cerca de 10 meses para atingir o ponto de maturação. Os embarques por navio vão de junho a dezembro, normalmente. O que fica no mercado interno, onde a demanda é baixa, não chega a 5% da produção.

Embora exija poucos defensivos, o gengibre tem um custo alto de implantação: cerca de R$ 120 mil o hectare. O Brasil tem apenas 2,5% do mercado exportador, dominado por China e Índia, e tem o Peru como um concorrente de peso na América Latina.

O país andino, que só produz gengibre orgânico e começou a exportar há apenas oito anos, tem 20% do mercado mundial e chega ao comprador com preço abaixo do produto brasileiro, embora com qualidade inferior, segundo Magalhães.

Produtores do Espírito Santo chegaram a plantar 80 hectares de gengibre orgânico, mas a área recuou para 20 hectares porque o preço não compensou os custos maiores com a lavoura e a certificação.

Em 2022, houve excesso de oferta no mercado internacional, faltaram contêineres e caixas para exportação, o preço caiu e cerca de 40% da produção capixaba ficou embaixo da terra. Isso desanimou os produtores.

No ano passado, no entanto, houve uma recuperação com os problemas na colheita da China, que produz muito, mas com produtividade de apenas 34 toneladas por hectare, e os preços chegaram a R$ 100 por caixa. Segundo os agricultores, o valor de R$ 50 já paga os custos e gera lucro.

Oportunidade

Em janeiro deste ano, abriu-se uma janela atípica para o gengibre brasileiro porque a China atrasou as entregas por dificuldades de transporte pelo Mar Vermelho. Como não sobraram lotes da safra passada, os capixabas embarcaram para a Europa por via aérea 366 toneladas de gengibre verde (chamado de “baby ginger”), com um preço compensador de até US$ 35 (R$ 170) a caixa.

O agrônomo do Incaper destaca que o gengibre capixaba já teve o status de melhor qualidade do mundo, mas perdeu o título há uns quatro anos, depois de embarcar produtos que chegaram ao mercado internacional com doenças, mofo e outros problemas.

“O gengibre desidrata muito rápido. Para chegar à Europa de navio demora 24 dias e pode mofar no transporte porque não está 100% na cadeia do frio. Estamos trabalhando junto aos produtores e exportadores para ter um padrão mínimo de qualidade que garanta um tempo maior de prateleira, sem quebras no rizoma, com brilho e sanidade”, destaca Magalhães.

Calote e virada

Leomar Schaeffer colhia 80 toneladas de gengibre por hectare há dez anos. No ano passado, a produtividade chegou a 120 toneladas. O segredo, diz ele, foi investir em um manejo ainda mais cuidadoso e na seleção de mudas.

O produtor conta que o caminho para chegar a ser um dos maiores produtores e exportadores de gengibre do país, foi espinhoso. Ele faliu há quatro anos depois de levar um grande calote e pensou até em abandonar a roça e se mudar para a cidade.

“O que me salvou foi uma mensagem vinda da Europa pelo Facebook de um holandês que propôs vender meu gengibre por lá e me sugeriu a via de exportação direta. Abri, então, uma empresa, passei a embarcar minha produção e a de parceiros sem intermediários e o holandês se tornou meu funcionário na Europa”.

Desde então, a renda da família aumentou, o agricultor comprou camionete, caminhões para o transporte do gengibre ao porto de Santos (SP) e oito propriedades na região para plantar mais hectares com parceiros.

“Rei do gengibre”

O capixaba pomerano Wanderley Stuhr, de Santa Maria de Jetibá, é o maior exportador de gengibre do país e mantém uma distribuidora nos Estados Unidos, administrada pelo filho Frederico. “Abri a filial para expandir a exportação e reduzir a inadimplência porque tem caloteiro em todo o lugar”.

A história dele com o gengibre começou em 2000, quando trocou o café pela raiz, influenciado por uma empresa que surgiu na região fomentando o cultivo. Nunca se arrependeu.

“O café estava com preço ruim e eu tinha muita dificuldade em contratar mão de obra. Vi o potencial do gengibre, plantei a primeira safra de dois hectares, a empresa que incentivou não quis comprar minha safra por excesso de oferta, mas consegui negociar a produção em São Paulo. No ano seguinte, fui para a Holanda conhecer o mercado e já comecei a exportar”.

Atualmente, Stuhr planta pouco mais de 20 hectares em Santa Maria de Jetibá e Leopoldina e tem 16 parceiros agrícolas. Ele banca todos os insumos, repassa tecnologia e o parceiro entra com a terra e a mão-de-obra. A renda é dividida entre as partes. Cerca de 15% da produção é orgânica.

“Nos últimos dois anos, não valeu produzir orgânico porque o mercado não pagou a mais pela caixa, mas eu mantenho o plantio orgânico pelo ganho ambiental”.

No ano passado, o pomerano da quinta geração agrícola da família, que ganhou o apelido de “rei do gengibre”, embarcou 4 mil toneladas ou 245 mil caixas, o que representa 100% da sua produção e dos parceiros.

Ele conta que seu recorde foi 8 mil toneladas em 2020 e credita a queda ao fato de terem entrado no mercado muitos concorrentes nos últimos anos. Agora, no entanto, espera colher uma safra 60% a 70% maior que a de 2023.

“Mas podemos ter dificuldade na comercialização porque a China vem com uma produção maior e o Peru também está forte”.

O produtor diz que o gengibre é uma planta que exige muita água, daí a necessidade de 100% de irrigação, e matéria orgânica. O maior problema da cultura é controlar a fusariose e o ataque dos nematoides. A doença não tem cura, só prevenção com produtos da agricultura orgânica.

A escolha das melhores áreas da propriedade para plantar as sementes, seguindo orientação do Incaper, elevou a qualidade e a produtividade do gengibre da família, que não passava de 30 toneladas por hectare nos primeiros anos.

Desafios

Como Schaeffer e Magalhães, Stuhr lamenta a perda do Espírito Santo do título de melhor qualidade de gengibre do mundo. “Pecamos nos últimos anos. Muito exportador brasileiro entrou no mercado sem vínculo com produtor e sem capricho na qualidade. Foram embarcados lotes de gengibre mal lavado, com fungos e doenças, o que afetou todo o produto brasileiro”.

A consequência veio no bolso. Segundo ele, há quatro anos o gengibre brasileiro era 20% mais caro que o chinês. Hoje, é 20% mais barato e a China exporta o ano todo porque tem tecnologia de armazenamento que lhe permite colher de uma vez e estocar por até dois anos sem perder a qualidade.

No Brasil, o armazenamento é debaixo da terra mesmo por até seis meses, mas a qualidade não é a mesma do produto colhido na hora certa. O plano de Stuhr é visitar a China neste ano para estudar as tecnologias de armazenamento dos asiáticos.

O processamento do gengibre que inclui lavagem, corte dos brotos para formar os toletes, secagem e embalagem é feito nos packing-houses. Somente quatro dos 16 parceiros usam a estrutura de Stuhr por não ter armazéns na propriedade. Na lavoura e packing, ele emprega 35 pessoas.

FONTE Globo Rural

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