A fatia das exportações de carne Halal para países islâmicos chega a quase 22% do mercado
Com 161,2 mil toneladas exportadas entre janeiro e outubro deste ano, Mato Grosso é principal estado para produção de carne bovina Halal no Brasil. O termo Halal significa permitido ou lícito em árabe e serve para distinguir os alimentos que podem ser consumidos pela comunidade islâmica. A fim de atender o mercado internacional, Mato Grosso implementou o modo de produção Halal nos frigoríficos do estado, consolidando, assim, as relações comerciais com os países árabes.
A carne Halal é obtida através do abate Halal. Esse procedimento é fundamentado na fé islâmica, considerado um ritual de sacrifício, seguindo as Leis do Alcorão Sagrado e da Sunnah do profeta Muhammad.
“Essa é a melhor maneira de respeitar o animal e dar uma morte com o mínimo sofrimento possível. Uma morte que, ao mesmo tempo, deixa o produto mais saudável”
– Explica Omar Chahine, da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil Halal
O objetivo do procedimento é a valorização da criação de Allah, ou seja, Deus. Para que um abate seja Halal, é preferível que o animal esteja voltado para Meca – a cidade sagrada para os muçulmanos -, ainda que não seja obrigatório para todos os países. Além disso, o responsável pela degola deve ser islâmico ou treinado para tal, utilizando uma faca de metal, bem afiada, para que o corte seja certeiro e único.
Durante o abate, o responsável deve dizer: “Em nome de Deus, Deus é maior”, em árabe, enquanto o animal está consciente, sem nenhum meio de atordoamento. Uma vez morto, o boi é deixado para sangrar completamente de maneira natural.
Para o diretor de inteligência comercial da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil Halal (FAMBRAS Halal), Omar Chahine, o procedimento, além de religioso, garante uma carne de qualidade.
“Essa é a melhor maneira de respeitar o animal e dar uma morte com o mínimo sofrimento possível. Uma morte que, ao mesmo tempo, deixa o produto mais saudável. Quando o boi não recebe nenhuma paulada ou tipo de atordoamento, ele não enrijece os músculos em defesa e, com isso, o pH da carne fica mais ácido e há menor proliferação de bactérias”, explicou Omar.
Inclusive, os bois destinados ao abate Halal não podem estar machucados para o procedimento.
Halal em Mato Grosso
As relações com o mercado Halal em Mato Grosso já são consolidadas. No estado, existem 26 plantas de frigoríficos adaptadas para o abate religioso. Isso ocorre porque as carnes Halal não podem ter contato com as convencionais.
Comercializar um produto Halal não é fácil, visto que há a necessidade de um certificado específico, o qual atesta o cumprimento das normas do abate.
O analista técnico do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Valdecir Junior, avalia que Mato Grosso já é adequado ao Halal há algum tempo. Dada grande movimentação do mercado no Oriente Médio, as adequações necessárias são mínimas perto do tamanho da demanda – e retorno.
“Os Emirados Árabes Unidos, dentro de cinco anos eles saíram de 2% do que eles compravam do estado do Mato Grosso para 11%. Eles tiveram um crescimento muito grande dentro de e é claro que houve aumento nessa demanda, o que favorece as nossas plantas habilitadas. É um mercado que vai precisar muito de produtos específicos e o Mato Grosso está muito bem servido, muito adaptado para fazer essa entrega”, detalhou.
Em 2023, a exportação de carne de Mato Grosso para o Oriente Médio movimentou US$ 554 mil de janeiro até outubro deste ano, totalizando cerca de R$ 3,2 milhões (cálculo feito com o dólar a R$ 5,78). Os principais compradores nesse período foram os Emirados Árabes Unidos, o Egito e Turquia.
Mato Grosso é, para a FAMBRAS Halal, um estado chave para o abastecimento de carne bovina no Oriente Médio. “O Mato Grosso, especificamente, é um local que parece que Deus criou, porque é um lugar propício para a criação de bovinos. Não é possível criar bois tão bem no Paraná ou em Santa Catarina. Isso faz com que o Mato Grosso seja um dos principais exportadores de carne Halal do mundo”, comentou Omar.
A fatia das exportações de carne Halal para países islâmicos compreende, aproximadamente, 22%. Entretanto, outros destinos também optam pela importação desse produto para abastecimento da população muçulmana presente, como a China e países na União Europeia. Até 2050, o Islamismo pode chegar a 2,76 bilhões de fiéis.
Com isso, o mercado Halal ganha força e estados adaptados, como Mato Grosso, conseguem despontar para o atendimento.
“As empresas brasileiras já entenderam que a certificação Halal é mandatário. Se eu quiser sobreviver no mercado, eu tenho que ser Halal. Se você pega um frigorífico que não tem certificado Halal, certamente ele não exporta”, enfatizou Chahine.
FONTE RD News